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Águas Subterrâneas

Despertar da ilusão da abundância da água

Estamos despertando para a ilusão da abundância da água no Brasil. Na região nordeste a crise hídrica vem se agravando e cresce a demanda pela exploração e uso das águas subterrâneas a partir da perfuração de poços. Isso porque, além de ser uma fonte com maior disponibilidade global, representando cerca de 30% da água doce da Terra, os mananciais subterrâneos estão mais protegidos de processos de contaminação e variações climáticas sazonais. Dados do IBGE apontam que no Brasil existem aproximadamente 200 mil poços regulares. Mas, estima-se que há regiões com até 90% de poços clandestinos. Os principais problemas dos poços clandestinos são: falta de controle de qualidade na perfuração, falta de qualidade da água que é utilizada e a superexplotação dos aquíferos.

Na Bahia, apesar do bom nível de conhecimento geológico do território, faltam estudos específicos sobre os aquíferos, especialmente daqueles com maior potencial hidrogeológico como os sistemas aquíferos Marizal-São Sebastião e Urucuia ou aqueles fortemente impactados por perfuração de poços clandestinos como o aquífero fissuro-cárstico localizado na microrregião de Irecê. Estima-se que neste último existam mais de 20 mil poços clandestinos. Visando preencher essa lacuna a ABAS Bahia-Sergipe vem estimulando o desenvolvimento de projetos de pesquisa como aquele intitulado “Águas subterrâneas da Bahia: usos múltiplos e mudanças climáticas”, executado pelo Núcleo de Estudos Hidrogeológicos e do Meio Ambiente do IGEO-UFBA.

Os primeiros resultados deste projeto revelam por exemplo que há porções do aquífero São Sebastião, na bacia sedimentar do Recôncavo Baiano, que pode alcançar até 900 metros de espessura saturada com água doce. Enquanto no caso do aquífero Urucuia na região oeste da Bahia os trabalhos com isótopos estáveis têm confirmado a conexão hidráulica interanual entre das precipitações, rios e o aquífero, revelando ser tratar-se de um sistema aberto e que requer o estabelecimento de procedimentos específicos para a outorga e gestão de suas águas por parte das autoridades estaduais. Já no caso do aquífero fissuro-cárstico na região de Irecê o tratamento e análises de dados de mais de 3.000 poços revelam a redução das entradas de água nos poços a partir de 120 metros de profundidade indicando a inviabilidade de aprofundamento dos níveis de explotação de águas subterrâneas. Espera-se que os resultados dessas pesquisas sirvam para orientar e fomentar os instrumentos da Política Estadual de Recursos Hídricos, como os procedimentos para emissão de outorga de uso das águas subterrâneas a nível estadual.

Em um mundo assombrado com as mudanças climáticas naturais, o futuro da água e o nosso futuro se tornam incertos. Ela é o principal meio através do qual essas mudanças influenciam os ecossistemas e, portanto, o modo de vida e o bem estar das sociedades. Reduzir perdas, otimizar o uso e proteger os mananciais subterrâneos da contaminação são enormes desafios e só conseguiremos isso se estivermos juntos, todos usuários da água. Estes temas serão discutidos na série de eventos que a ABAS Núcleo Bahia Sergipe está organizando para os anos de 2017 e 2018 e também serão alvo de debates durante o 8º Fórum Mundial da Água que será realizado no Brasil em 2018. A comunidade baiana deve estar presente neste debate.

 

Prof. Dr. Luiz Rogério Bastos Leal
Geólogo – Presidente da ABAS Bahia-Sergipe.